Zeca Pagodinho, nome artístico de Jessé Gomes da Silva Filho, (Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1959) é um cantor e compositor brasileiro.
Gravou mais de 20 discos e é considerado um grande nome do gênero samba e pagode. O artista, que começou sua carreira nas rodas de samba dos bairros de Irajá e Del Castilho,
subúrbio do Rio de Janeiro, tornou-se tão imensamente popular que seus
shows chegam a ser contratados por cachês generosos, sendo realizados
nas mais badaladas casas de espetáculo do país. Sempre fiel a suas
características de irreverência e jocosidade, Zeca recebe também
reconhecimento da crítica e de artístas e compositores consagrados. Nei Lopes afirma que o sambista "é uma das poucas unanimidades nacionais, elevado ao patamar do mega-estrelato pop pelas gravadoras".
No Rio de Janeiro, o samba está em todos os lugares. Todo bairro tem um
cantinho (ou um cantão, dependendo do caso) onde grandes sambistas
surgiram e ainda surgem de tempos em tempos. Como alguns rápidos
exemplos: Vila Isabel foi a rampa de lançamento de Noel Rosa e Martinho da Vila (que veio de Duas Barras, interior do estado), Elton Medeiros é originário da Glória, Cartola
nasceu no Catete, se criou em Laranjeiras e se consagrou na Mangueira,
Botafogo foi o primeiro endereço de nome do Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho é nativo da Tijuca, Beth Carvalho
veio para a Zona Sul depois do nascimento na Gamboa e Nei Lopes passou a
infância em Irajá, mesmo bairro onde veio ao mundo um certo Jessé Gomes
da Silva Filho.
Recebendo o mesmo nome do pai, o bebê nasceu em 4 de fevereiro de
1959 e juntou-se aos irmãos Icléa (1952). Jorge Roberto (1954) e Ircéia
(1957). O time de filhos de Seu Jessé e Dona Irinéia ainda ganharia um
quinto integrante em 1964, com a chegada de Isabel. A caçula nasceu em
Del Castilho, endereço adotado pela família logo após o nascimento de
Zeca, quer dizer, Jessé. Zeca viria alguns anos depois.
Em suas andanças e brincadeiras por Irajá e Del Castilho, o garoto
se enturmou com os mais velhos. Além de dar seus primeiros passos na
escola do samba, ainda tomava lições extras de filosofia de vida com o
"professor" Thybau, seu tio-avô, patriarca da família e cobra-criada na
arte da boemia e festividades em geral. Na adolescência, recebia sempre
convites para embarcar nas aventuras noturnas do irmão e dos amigos Zé
Vaca Brava e Seu André. Como ainda era "de menor", o garoto de 14 anos
se entocava embaixo das mesas de bar ao menor sinal de aproximação do
Juizado de Menores.
O gosto pela vida noturna e pelo samba logo o afastaram das salas de
aulas. Depois da quarta-série não quis mais saber de escola. Só tinha
pensamentos para a música que ouvia e queria entrar de cabeça. Também
era um rapaz de carisma único e as meninas do bairro não lhe resistiam.
Dorina, sambista talentosa e amiga dessa época, afirma que poucas
garotas das redondezas não caíram na lábia do Zeca. Entretanto, ela jura
de pé junto que ficou de fora do harém.
Se fugindo do Juizado Zeca já estava em todas, depois da maioridade
não havia mais o que o segurasse. A companhia dos amigos estava sempre
ao alcance e o transporte para as noitadas podia até ser escolhido:
ônibus ou a garupa da moto de Sérvula, grande amiga e parceira de
boemia. Com ou sem a moto, a dupla era presença constante em várias
rodas de samba, blocos e festas da Zona Norte. A preferência de ambos
era sempre os eventos em que a atração principal fosse um tal de
partido-alto, modalidade de samba que se tornaria uma febre no final dos
anos 70.
O dinheiro para bancar a bebida e a comida nunca foi um grande
problema, afinal ele nunca tivera muito até então. Mas como nem tudo são
flores, cerveja gelada e batuque, Zeca precisava descolar um trocado
para financiar a vida noturna. Trabalhou como feirante, camelô,
office-boy, contínuo e até anotador de jogo do bicho ("corretor
zoológico", como ele costuma dizer). Verdade seja dita, ele só não era o
malandro completo e romântico porque nunca correu do batente. Entre o
trabalho sério do dia e o aprendizado com o samba à noite, o rapaz
começou a formar o time de amigos e parceiros que o acompanhariam pelo
resto da vida.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, Zeca estava cada vez mais
estabelecido como um versador de respeito, mas também escrevia seus
sambinhas. Em parceria com o flautista e também partideiro Cláudio
Camunguelo, "Amargura" foi sua primeira música gravada. Entrou no
repertório do segundo disco do grupo Fundo de Quintal, originado
essencialmente pelo pessoal do Bloco Cacique de Ramos. Essa música
chamou atenção do grandalhão Arlindo que veio conversar com o jovem
compositor numa roda de samba em Quintino. O papo rendeu novos
encontros, que se tornaram mais freqüentes e logo os dois estavam
inseparáveis. Poderiam até ter recebido o apelido de Dupla Dinâmica, mas
entraram na brincadeira da turma do samba e, pela enorme diferença de
portes físicos, viraram O Gordo e o Magro.
Além de Sérvula e Dorina, Zeca também cultivava a amizade de Paulão Sete Cordas (na época, apenas Paulo Roberto), Monarco, Mauro Diniz(filho de Monarco), Almir Guineto, Bira Presidente, Dudu Nobre(filho
dos também amigos Anita e João Nobre. Dudu era pequeno e tinha que
liberar o quarto para um combalido Zeca despencar de vez em quando),
Beto Sem Braço e Arlindo Cruz, com quem formou uma dupla cujo vigor atravessa as décadas.
Beth Carvalho já havia sido madrinha do Fundo de Quintal, mas ficou particularmente encantada com "Camarão que Dorme a Onda Leva", composição de Arlindo Cruz,
Beto Sem Braço e Zeca. Dos três, o filho do Seu Jessé foi convidado
para gravar essa música com toda a pompa e circunstância que isso
envolve. Até microfone de ouro entrou na jogada. Ele, que nunca tinha
cantado em um microfone, na primeira viagem teve que encarar logo um de
ouro. "Camarão..." foi um sucesso e ganhou até clipe no Fantástico.
Depois de muitas gravações, parcerias e shows Zeca Pagodinho
estava definitivamente no coração do povo. Mesmo receoso, encarava
palcos de todos os tamanhos e para todos os públicos. Já foi atração do
Directv Music Hall, do Claro Hall, do Canecão e do Teatro Municipal com
casa cheia e exigência de shows extras. Depois que ganhou o Grammy, foi
convencido a levar sua música para fora do Brasil. Logo o menino de
Irajá estava cantando na Europa, África e América do Norte com a mesma
naturalidade com que cantava nas rodas de samba do Cacique de Ramos.
Seu carisma levava as emissoras a disputarem sua presença a tapa.
Com o jeitão desconfiado de sempre, Zeca freqüentou o sofá da Hebe, o
palco do Faustão, Raul Gil e Gugu, a poltrona do Jô Soares e até a
cadeira do irreverente punk João Gordo, da modernosa MTV. Aliás, foi na
MTV que foi escrito o capítulo mais elegante da sua história. Com
repertório escolhido a dedo e orquestra digna de um show de Luciano Pavarotti,
o portelense colocou o samba em um ponto nunca antes alcançado: atração
principal de um celebrado álbum acústico. "Acústico MTV Zeca Pagodinho"
foi lançado em 2003 em CD e DVD tornando-se um sucesso instantâneo. A
razão? Talvez porque no palco estava o homem que nunca perdeu o elo com
seu povo, suas origens e sua essência.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
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